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Notícia

Empresas visualizam cenário mais positivo até o fim de 2020

Apesar de um 2º semestre de prejuízo e quedas recordes, retomada gradual da economia e da confiança do consumidor sinalizam melhoras, segundo o Comitê de Avaliação de Conjuntura da ACSP

Aos poucos, a economia começa a ensaiar uma retomada. Exemplo disso é a recuperação gradual da confiança do consumidor, que em agosto chegou a 83 pontos ante 79 em julho, segundo o Índice Nacional de Confiança (INC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), medido pela Behup.

Mesmo ainda no campo pessimista, o indicador voltou a patamares pré-pandemia.

Predisposição maior ao consumo engatilhada pelo e-commerce, início da operação do PIX, que vai permitir transações financeiras instantâneas (inclusive em lojas), e os juros no menor patamar histórico são alguns fatores que devem ajudar a manter o nível de atividade do varejo e da economia em geral.

A análise, apresentada durante reunião mensal on-line do Comitê de Avaliação de Conjuntura da ACSP, realizada na última quinta-feira (27/08), reforça que, mesmo que seja impossível encerrar o ano em crescimento, esses fatores, juntos, devem ajudar a minimizar as perdas.

A nova perspectiva, que contraria projeções de queda mais acentuada no desenrolar da crise, já beneficia setores como a indústria, que apesar de não ter recuperado perdas, tem melhorado seus indicadores.

Com queda de 17,5% na atividade no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior, a indústria teve uma recuperação de 17,8% em maio e junho. "Foi razoável, mas não suficiente para cobrir as perdas, já que junho ficou 9% menor que o ano passado", disse um empresário industrial presente à reunião.

Os nomes dos participantes da reunião de conjuntura da ACSP não são divulgados a pedido da entidade.

O empresário lembrou, porém, que a recuperação foi resultado de um ajuste extremamente rápido das indústrias, que pegaram a crise com pouco estoque. As medidas de isolamento relaxadas também foram importantes nessa melhora de maio para frente, assim como o efeito do Auxílio Emergencial sobre a renda.

"Se pegarmos toda a massa de salário, o Auxílio representou 17% do total. Foram 30 milhões de lares beneficiados, ou 44% de todos os domicílios - um peso importante nessa puxada que estamos assistindo."

Mas, apesar da sinalização positiva de crescimento na produção de automóveis, ônibus e caminhões, e do desempenho positivo dos segmentos farmacêutico (13%) e de alimentos (8%), muitos segmentos ainda apresentam resultados ruins, como confecções e calçados, que caíram 45% com a crise.

Por isso, ainda não dá para comemorar, lembrou um economista que participou do encontro. "O 2º semestre vai ter prejuízo e quedas recordes. Mas, apesar das incertezas políticas e da pandemia, o cenário não é mais tão pessimista quanto antes."

ON E OFF-LINE

Enquanto a maioria dos setores amargaram perdas recordes, o e-commerce foi um dos que mais faturaram na pandemia. Ele deve encerrar 2020 com 12% de participação no varejo brasileiro, de acordo com um especialista em comércio eletrônico presente à reunião de conjuntura da ACSP.

Puxado por categorias que mostram novos hábitos de compra on-line, como supermercados, limpeza, medicamentos, beleza e cuidados pessoais, saúde, artigos para o lar e produtos para pets, o setor faturou R$ 39 bilhões no 1º trimestre - uma alta de 47% ante igual período do ano passado, segundo a Ebit|Nielsen.

As mudanças também aceleraram a integração de varejistas ao ambiente virtual - principalmente dos que tiveram que fechar as lojas durante a quarentena. Por esse motivo é que o e-commerce brasileiro, que demorou 20 anos para chegar a 6% de participação no varejo restrito, dobrará neste ano, disse o especialista.

Ele citou também dados da consultoria A.T.Kearney, que estimam que o faturamento do setor chegue a R$ 111 bilhões, crescendo 49% ante 2019, e que mais R$ 69 bilhões de 'dinheiro novo' cheguem a esse mercado até 2024. "Esse consumidor com novos hábitos que foi bem-sucedido não vai parar de comprar no e-commerce."

Já no varejo físico, o movimento decresceu com o fechamento do comércio, e em ruas como Augusta e Haddock Lobo, onde há vários espaços com placas de aluga-se, lembrou um consultor de varejo presente à reunião. "Já o comércio mais popular, que continua com movimento significativo, tem levado vantagem."

Ele cita o exemplo dos Estados Unidos, onde gigantes como a Amazon tem alugado espaços vazios de lojas de rua e shoppings para oferecerem serviço de entrega em até duas horas. Segundo o consultor, porém, no Brasil isso ainda não acontece, e as lojas de pequenos varejistas estão vagando, principalmente em shoppings.

Um estudo da CNC mostra que o varejo fechou 135 mil lojas no segundo trimestre.

Mas há empreendedores de shoppings criando marketplaces e fazendo parcerias com empresas de logística para estimular a venda de pequenos lojistas do seu mix ou até de fora dele. Ou varejistas usando sellers para atender aos novos hábitos do consumidor - iniciativas que sinalizam boas perspectivas para o setor.

Para os empresários presentes à reunião, o Auxílio Emergencial, mesmo se reduzido, "continuará a colocar gasolina na economia e fará com que ela continue rodando."